Para o governo Bolsonaro, da Bahia para cima não existe, “ninguém é gente, o Nordeste é uma ficção, Nordeste nunca houve”, como diz o cearense Belchior na letra de Conheço o meu lugar.
Seria vingança pelo resultado das eleições presidenciais? Nem o ressentimento, traço pesado do bolsonarismo, justificaria o desprezo. O presidente obteve 30,3% de votos válidos nordestinos; contra 69,7% de Fernando Haddad. Foi uma votação que pode ser considerada estupenda, milagrosa, inexplicável até, levando-se em conta as gestões extraordinárias de Lula e Dilma na região.
O presidente teria que agradecer ao padim Ciço, de joelhos, tamanha devoção e aposta em seu nome, mesmo que tenha dedicado apenas piadas e um festival de preconceitos contra os eleitores da terra do sol.
O tratamento ao Nordeste segue dos piores, com patadas até em governadores, como nos ataques a Flávio Dino, o “comunista” que mostra no Maranhão tudo aquilo que não se vê no plano federal: obras sociais, respeito aos professores, aos artistas, aos quilombolas, aos índios, cuidado com o meio-ambiente e democracia ao ritmo do reggae.
Do sertão ao litoral, o desprezo aos nordestinos é vergonhoso. A região recebeu apenas 3% de novos benefícios do Bolsa Família; o Sul e o Sudeste ficaram com 75%. É só uma breve amostra do tratamento. Na costa, se não fosse os mutirões, o mar de óleo estaria lá até hoje. A maior contribuição das autoridades do Palácio do Planalto foi fazer batalha naval ideológica com imaginários navios venezuelanos.
Não foi à toa, nada é de graça em política, que a Aliança pelo Brasil, novo partido do presidente, zerou em assinaturas de apoio nos estados de Pernambuco, Bahia, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. E olhe que a campanha foi pesada e contou com estrutura dos cartórios. “No Ceará, não tem disso não, tem disso não”, fica aí o pernambucaníssimo Luiz Gonzaga na vitrola e até a próxima semana.
Créditos: Metropoles / texto pelo conterrâneo de Bel, o também cearense Xico Sá