Estudo revela que as balas perdidas da polícia sempre encontram os corpos negros

Por Marcos Aurélio Ruy. Foto: Igor Carvalho

A Rede de Observatórios da Segurança divulgou nesta quarta-feira (9) o estudo A Cor da Violência Policial: a Bala Não Erra o Alvoe comprova que a morte, com policiais suspeitos, de duas meninas, primas, de 4 anos e 7 anos, brincando em frente de suas casas numa favela do Rio de Janeiro não é mero acaso.

Os dados coletados por intermédio da Lei de Acesso à Informação entre as secretarias de Segurança Pública da Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo “revelam que letalidade policial tem endereço certo, que é o corpo negro”, diz Mônica Custódio, secretária da Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). E “dificilmente se vê policiais responsabilizados e punidos por essas mortes”.

“As mães pretas, pobres e moradoras da periferia, não querem mais chorar a morte de seus filhos e filhas”, garante. Para ela, “o Brasil precisa encarar o racismo estrutural de frente para combatê-lo de maneira eficaz” porque “nenhuma nação pode ser construída com o sangue de parte integrante dessa nação”, reforça

De acordo os organizadores, o estudo “traz dados dos cinco estados monitorados pela rede e escancara a dinâmica racista da letalidade policial. O estudo apresenta um retrato preciso da Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo com dados de 2019 que comprovam que a bala da polícia é dirigida à população negra”.

Segundo o relatório apresentado, a polícia matou, no ano passado, 650 pessoas na Bahia, dentre as quais 474 eram negras. No Ceará foram mortas 136 pessoas no total, sendo 27 negras e 77% delas sem identificação de cor. Entre os 74 mortos pela polícia pernambucana, 68 eram negras, já no Rio de janeiro a polícia matou 1.814 pessoas em 2019, sendo 1.423 negras e em São Paulo foram 815 pessoas mortas no total, 495 delas negras.

Para Lidiane Gomes, secretária da Igualdade Racial da CTB-SP, “é necessário repensar a polícia no país”. Ela defende a criação de “uma Política Nacional de Segurança com ampla discussão por todos os setores da sociedade”, além disso, “é fundamental o ensino da história da diáspora africana e das negras e negros escravizados no país para compreendermos a herança de raiz africana em nossa formação”.

Além do mais, complementa Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da CTB, “a política de com bate às drogas favorece a ação truculenta da polícia e não acaba com o tráfico”, com isso, “inocentes morrem praticamente todos os dias, vítimas das chamadas balas perdidas”.

Mônica argumenta que “já virou vala comum deparar com negros mortos pela polícia ou por ‘balas perdidas’ em ações policiais nas páginas dos jornais todos os dias”.

“Até quando isso vai acontecer sem que a sociedade se indigne com a dor das pessoas comuns que não sai em nenhum jornal?”, questiona Vânia. Já Lidiane reforça que “realmente a carne mais barata do mercado ainda é a carne negra”.