O discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU, recheado de mentiras sobre o meio ambiente e as crises econômica e sanitária que assolam o país, continua repercutindo, num processo de consolidação da destruição da imagem do Brasil no exterior Além da reação de organizações da sociedade civil, veículos da mídia estrangeira também repercutiram o roteiro de fake news apresentado por Bolsonaro em seu discurso de quase 15 minutos, evidenciando o isolamento do presidente.
Segundo a ‘CNN’, ao tratar das duas maiores crises mundiais, a pandemia e o aquecimento global, Bolsonaro deu a mesma resposta: “negação, acusações e gestos ineficazes”. De acordo com a análise de Claudia Dominguez para a rede de notícias americana, do mesmo jeito que o presidente mostrou profundo ceticismo sobre o valor do isolamento para conter o coronavírus, “também evitou impor mudanças para evitar que a Amazônia queime”.
A ‘CNN’ observou que Bolsonaro acusou setores estrangeiros de uma “campanha de desinformação brutal” sobre uma suposta degradação da Amazônia e do Pantanal no Brasil. “Mas enquanto Bolsonaro critica uma “guerra de informação” pela Amazônia, minimizar os incêndios é que constitui desinformação total”, critica a rede de TV. “Dados de seu próprio governo mostram que o número de incêndios na Amazônia disparou durante sua presidência”, escreveu a articulista.
A agência ‘Reuters’, por sua vez, repercutiu fala da coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sonia Guajajara, que afirmou que Bolsonaro mentiu ao mundo. “Devemos denunciar esta catástrofe política que destrói o meio ambiente e nosso futuro”, disse Guajajara, na reportagem.
A ‘Reuters’ lembra que defensores do meio ambiente culpam Bolsonaro por encorajar fazendeiros e especuladores de terras a desmatarem ilegalmente. “A floresta amazônica está experimentando sua pior onda de incêndios em 10 anos, e o Pantanal, o maior do mundo, possui o maior número de incêndios já registrado”, ressaltou a agência.
Já o britânico ‘Guardian’ destacou que o presidente Donald Trump e o líder de extrema direita do Brasil também usaram seus discursos na Assembleia da ONU “para desviar a atenção de sua resposta à pandemia”. De acordo com o diário, Brasil e EUA transformaram-se no epicentro do surto e atualmente têm “mais mortes totais do que qualquer outro país”.
A ‘Bloomberg’ também apontou a contradição entre a defesa de Bolsonaro da resposta brasileira à pandemia e o avassalador número de casos e mortes. A agência publicou ainda um gráfico apontando para o aumento vertiginoso das queimadas e lembrou que o número de incêndios na Amazônia deve aumentar pelo menos 7,5% neste ano até o final de setembro, após um número já recorde em 2019.
Oportunidade perdida
No Brasil, empresários e altos executivos de grandes companhias no Brasil lamentaram o discurso de Bolsonaro na ONU. Segundo o ‘Painel’, da ‘ Folha de S. Paulo’, empresários avaliam que Bolsonaro perdeu uma oportunidade para tentar amenizar o desgaste da imagem do país no exterior e aumentar a confiança de investidores. “A impressão que ficou, segundo o dirigente da filial brasileira de uma multinacional americana, foi de amadorismo, o que eleva o ceticismo das matrizes em relação ao país”, observa a coluna.
Em artigo publicado na mesma ‘Folha’, as diretoras da entidade Conectas Direitos Humanos, Juana Kweitel e Camila Asano, refletiram sobre o resultado do alinhamento cego do Brasil aos EUA. Para as especialistas, o discurso de Bolsonaro mostra “como o Brasil apequenou sua política externa”.
Ainda de acordo com Kweitel e Asano, “o discurso de Bolsonaro subestima o nível de conhecimento e informações dos líderes mundiais sobre o Brasil e fragiliza a reputação do país, com efeitos nocivos no campo diplomático e até comercial”.
Reações da sociedade civil
Além das duras críticas do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, outras entidades reagiram com firmeza às mentiras de Bolsonaro na ONU. O Observatório do Clima afirmou que a fala de Bolsonaro foi “calculadamente delirante” e dita para “combater a realidade e inventar inimigos imaginários”.
Para a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) as inverdades de Bolsonaro contribuem para que o país se torne um pária internacional. “Sem qualquer compromisso com a verdade, o presidente afirmou que seu governo pagou um auxílio emergencial no valor de mil dólares para 65 milhões de brasileiros carentes, durante a pandemia. O auxílio foi de 600 reais”, diz nota assinada pelo presidente da entidade, Paulo Jeronimo.
Ainda segundo a nota, todo o país é testemunha da “leviandade” de Bolsonaro, que classificou a pandemia de ‘gripezinha’, “na contramão dos procedimentos defendidos pelas autoridades de saúde. A ABI repudia esse comportamento que vem se tornando recorrente e conclama o povo brasileiro a não aceitar o verdadeiro retrocesso civilizatório”, conclui a entidade.
Fonte: PT Notícias con agências internacionais e Folha