O Investimento Direto no País (IDP) líquido, ou seja, investimento estrangeiro na economia real, ficou em US$ 1,430 bilhão em agosto deste ano, com queda de 46,7% em relação a julho e de 85% na comparação com o mesmo mês de 2019. Os dados estão no balanço do setor externo divulgado nesta quarta-feira (23) pelo Banco Central.
O IDP é considerado o melhor tipo de investimento, por se tratar de investimento produtivo, que gera empregos. Esse tipo de investimento vem diminuindo no país antes mesmo da pandemia, como mostra levantamento do Vermelho a partir das séries estatísticas temporais do BC.
Comparando janeiro de 2019 com o mesmo mês de 2020, o investimento direto no país recuou de US$ 5,591,4 bilhões para US$ 3,938 bilhões, queda de 29,5%. Em fevereiro de 2019, o IDP ficou em US$ 7,407,5 bilhões contra US$ 4,058,4 bilhões em fevereiro de 2020, recuo de 45,2%.
Nos meses de pandemia, a trajetória de queda continuou com certa consistência. Em março, houve alta. O investimento direto passou de US$ 4,246 bilhões no terceiro mês de 2019 para US$ US$ 5,997,5 bilhões em igual período de 2020, elevação de 29,2%. Mas logo devolveu o crescimento e aprofundou a queda: passou de US$ 5,129,8 bilhões em abril de 2019 para apenas US$ 1,152,5 bilhão em abril de 2020, um recuo de 77% no auge da pandemia e do isolamento social.
Sempre em comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve ainda queda em maio (- 63,4%) e alta em junho (81%), quando começou a reabertura econômica. Mas retomou a queda em julho (-49,6%) e finalmente em agosto (-85%). Dos oito meses de 2020, somente em dois não houve queda do investimento direto no país comparando-se com 2019.
Na comparação trimestral, o IDP caiu 18% nos três primeiros meses de 2020 em relação a igual período de 2019, de US$ 17,246 bilhões para US$ 13,994,2 bilhões. A queda ampliou-se comparando o segundo trimestre deste ano com o mesmo período de 2019: chegou a 36%, com o investimento passando de US$ 13,901 bilhões para US$ 8,847,8 bilhões.
Segundo o economista Fernando de Aquino, coordenador da comissão de Política Econômica do Conselho Federal de Economia (Cofecon), quando se trata do período relacionado à pandemia, é difícil separar o que pode ser queda relacionada à situação do coronavírus ou a outros fatores.
“O investimento líquido [ou seja, ingressos menos saídas] está positivo, mas em um nível bem baixo. Não dá para saber o que é devido à pandemia e o que é devido à credibilidade do país no exterior. Agora, antes da pandemia, realmente reflete uma queda na credibilidade, nas expectativas em relação ao país”, comenta.
Ele afirma, ainda, que a questão ambiental interfere bastante nas decisões de investimentos. Nos últimos meses, vem aumentando a pressão econômica internacional sobre o Brasil devido ao crescimento desenfreado de crimes ambientais sem ação ou fiscalização por parte do governo.
“Essa questão termina arranhando a imagem do país. Isso aí tende a inibir [o investimento]. Acho que inibe um certo tipo de investimento melhor. O país acaba atraindo só o investimento predatório”, afirma.
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