Desde o surgimento da epidemia de Covid-19, cresceu a demanda por suco de laranja. No entanto, as condições de trabalho dos colhedores de laranja não melhoraram no Brasil, o maior produtor mundial de suco de laranja. A constatação é da Ong Public Eye, que faz um apelo para o gigante comercial Louis Dreyfus, peso pesado do setor, melhorar a situação de seus trabalhadores sazonais no país. – Claire Fages, da RFI
Eles vêm principalmente do Nordeste, região mais pobre do Brasil, para trabalhar na colheita de laranjas na regiões produtoras de São Paulo, onde são chamados de “migrantes”.
Oficialmente, eles são 50 mil trabalhadores, mas o número pode ser maior, já que muitos não são declarados. O trabalho é penoso, de até 110 caixas de 27 quilos, ou seja, 3 toneladas transportadas por dia. Uma das explicações é que a remuneração depende do rendimento da colheita e, às vezes, apenas disso.
O salário mínimo legal, já bastante baixo, de R$ 1.045,00, nem sempre é respeitado, constatou a Ong suíça. A Public Eye critica a gigante comercial Louis Dreyfus, que comanda suas operações a partir de Genebra.
A empresa se tornou a número três do comércio mundial de suco de laranja concentrado e congelado, atrás apenas das empresas brasileiras Cutrale e Citrosuco. A Louis Deyfrus investe não apenas em embarcações refrigeradas, armazenamento e processamento, mas também em 25.000 hectares de plantação no Brasil, o país que fornece metade do suco de laranja consumido no mundo.
Alojamento insalubre e continuidade da atividade durante a pandemia
Em suas 38 plantações, a Louis Dreyfus diz respeitar o salário mínimo e equipar adequadamente os catadores, mas isso está bem longe de ser a realidade de seus fornecedores. Trabalhadores sazonais não têm acesso aos planos de saúde do grupo suíço e pagam por moradias insalubres, às vezes sem água encanada, no momento em que a epidemia de Covid-19 castiga duramente o Brasil.
O setor de laranja continua sendo uma atividade essencial neste período de pandemia. Os três principais exportadores, incluindo a Louis Dreyfus, querem manter em 100% a atividade.
A demanda por suco de laranja aumentou consideravelmente na Europa e nos Estados Unidos desde março, fazendo com que os preços desse produto, cotado em Nova York, subissem 36% , enquanto a tendência era de queda no consumo. Mas a situação dos trabalhadores sazonais continua ainda muito precária.
Controle de empresas terceirizadas
A legislação trabalhista no Brasil não exige mais que o tempo de viagem até as plantações, muitas vezes de várias horas, seja integrado aos salários. A fiscalização dos órgãos públicos é rara. A Ong Public Eye, no entanto, pede à Louis Dreyfus que exerça seu dever de diligência sobre as empresas terceirizadas para garantir aos catadores de laranja não apenas o salário mínimo, mas um salário que garanta um padrão de vida decente no Brasil.