Reflexões sobre o conflito Israel/Palestina

Lendo uma matéria sobre a imagem similar a de uma ‘caveira gritando’ captada pela NASA recentemente no conjunto de galáxias Perseu, justamente Perseu, o herói que decapitou Medusa na mitologia grega. Analisando o que está acontecendo neste momento em que milhares de pessoas inocentes, israelenses e palestinas, mas palestinas em número bem maior, fico me perguntando se não é um alerta vindo das estrelas, um comunicado, vinculado à relação significante Perseu e sua Medusa.

O que representou e representa Perseu. O que representou e representa Medusa e o que representa uma caveira gritando vista pela NASA. Não somos um planeta solitário. Temos bilhões de outros, além da impossível contagem de outros astros similares e diferentes. O que vemos nas estrelas? Um apocalipse refletido no espelho celeste? E por quê em grupo de galáxias denominada de Perseu, que destruiu Medusa? Na mitologia grega Perseu, semideus por ser filho de Zeus, com ajuda de outros deuses que lhe deram poderes, conseguiu destruir Medusa, idealizada em forma de uma mulher com cobras ao invés de cabelos e que quem olhasse nos seus olhos se transformaria em pedra.
Mas o que temos nos olhos senão espelhos? Medusa tinha o poder de refletir nos seus olhos a imagem real de quem a olhava. Quando se percebe quem se é de verdade, quando se consegue ver a sua própria imagem, coisa impossível de se fazer sem a ajuda de um outro (que nos faz refletir como num espelho, num olhar) fica-se tão transtornado com a própria imagem que transforma-se em pedra?

Por que uma mulher representaria um ser (Medusa) que proporciona a capacidade de percepção de nós mesmos, de uma auto reflexão, do sair de si para encontrar-se no outro. A mulher tem a capacidade de gerar outro ser e abrigá-lo por um tempo, numa interseção que os tornam dois em um só corpo.

Medusa poderia ser a fonte do autoconhecimento que foi demonizada pelos deuses e semideuses que a humanidade sempre quis apegar-se para fugir da estarrecedora imagem de si mesmo? As religiões e os deuses únicos ou plurais, representados pelas figuras do pai, filho e representantes, que surgiram e surgem estão aí para provar tudo isso.

Medusa representa a única forma de autopercepção e crescimento real, se observamos a necessidade que temos de nos perceber enquanto matéria (pedra), mas com a capacidade de construir movimento e de se transformar.
Destruir a capacidade de se perceber, se analisar, se colocar empaticamente no lugar do outro, seria fadar a humanidade à destruição. E o que poderíamos fazer para que não fiquemos em estado de choque ao observarmos a nós mesmos para vermos uma imagem tão horrível a ponto de congelarmos, paralisarmos, petrificarmos? A resposta seria a admissão de que somos seres em estado bruto, assim como a matéria. Somos pedra, em princípio. Sentir isso é necessário para, a partir daí, começarmos a nos mover para a transformação de fato.

Abrindo bem os olhos para nos enxergar, tristemente, e olhando ao nosso redor o que estamos fazendo com o nosso planeta, com a natureza, conosco mesmo. Temos que iniciar o movimento em busca de enxergar a nós mesmos para poder enxergarmos a natureza, que nos completa, a beleza que nos move e a capacidade de ver e sentir o outro e, com tudo isso, sorrir ou chorar de nós ou por nós mesmos.

Sem isso, ou seja, sem nos vermos em algo fora de nós, no diferente, no espelho de vida para iniciar essa transformação, não temos nenhum futuro e ficaremos fadados a ver nosso reflexo estarrecedor e petrificante, fantasmagoricamente refletido em tudo que olhamos tanto na terra como no céu. A caveira gritando no conjunto de galáxias é apenas o que a falta da auto reflexão tem provocado. É o que estamos fazendo conosco e com tudo, movidos pelo medo de nos reconhecermos enquanto matéria (pedra), sem nenhuma magia fantasiosa que represente uma beleza idealizada fora de nós. Porque a beleza só existe se estiver dentro de nós e partir de nós.

Mas o que teria tudo isso a ver com o conflito Palestina e Israel, me pergunto. Israel (não o povo, mas quem o governa) não percebe ou não quer perceber suas ações. É um povo ferido por um holocausto que vê fantasmas (‘caveiras gritando’) em quem é diferente e está mais próximo: os palestinos. E acabam lançando sob os palestinos o que receberam de sofrimento na segunda guerra.

Os palestinos (os governos e grupos extremistas) sob o refúgio ensimesmado de uma religião fechada à reflexão, se prepara para combater a caveira gritante que idealiza em Israel, organizando-se em grupos extremistas violentos e vingativos, que só estarrece e transforma o mundo em algo aterrorizante e espectro.

Não podemos mais, sob a batuta de deuses e semideuses (homens), destruir medusas (olhares, espelhos, reflexo, reflexão, autoconhecimento, conhecimento e reconhecimento) que nos faz percebermos enquanto matéria, pedra, para poder renascermos para a transformação, com a direção do olhar sempre em busca do movimento de reconstrução, da cura, da ajuda, da beleza, do amor e da paz.

Luciana Rodrigues   – Jornalista